Cynthia Maria Cirillo Jobim *

Está acontecendo tão rapidamente, que mal dá tempo para refletir. Uma nova maneira de fazer negócios está surgindo. As empresas têm sido obrigadas a mudar e desenvolver mecanismos para assumir responsabilidades morais com todos os agentes envolvidos nas suas operações. O fenômeno, de tão radical, está trincando a própria definição de empresa: o que era visto como entidade puramente econômica passou a representar um organismo de múltiplos propósitos.

À medida que cresce a complexidade do cenário, aumenta o risco que as organizações correm de enviar sinais confusos para seus funcionários, estabelecendo critérios e prioridades dissociados de sua estrutura e seus reais princípios e práticas. Assim como as organizações devem ser entendidas a partir do contexto externo, é necessária também uma análise dos processos sociais que dão estofo ao ambiente interno.

Foi com essa preocupação que realizei recentemente uma pesquisa 1, com o apoio da Fundação Getulio Vargas, para estudar o clima ético das organizações que têm programas de responsabilidade social. Clima ético é um importante componente da cultura e do ambiente interno. Ele representa a percepção compartilhada dos empregados sobre os padrões éticos – valores, práticas e procedimentos – da empresa, e como eles são aplicados no relacionamento entre os indivíduos dentro da organização e na interação dela com os seus stakeholders. Reflete tanto o conteúdo moral das decisões -- o que deve ser feito – quanto o processo e a prática de tais decisões -- como deve ser feito.

A análise dos dados mostrou que o clima ético das empresas pesquisadas é significativamente acima da média. Sugere que organizações com programas de responsabilidade social experimentam níveis mais altos de comprometimento dos empregados com os diversos stakeholders. Isso parece coincidir com o caminho das empresas éticas.

Interessante notar que, entre as empresas pesquisadas, os níveis mais altos de comprometimento ocorrem com o stakeholdergoverno/órgãos públicos, seguido dos competidores. Por outro lado, os níveis mais baixos de comprometimento ocorreram com funcionários e liderança. Não é que os dois últimos tenham sido relegados. Simplesmente os dados mostraram níveis mais baixos para eles, quando comparados aos dos demais stakeholders.

Os resultados também indicaram semelhanças significativas na análise das dimensões sistema de gestão e liderança, o que faz pensar que o aprofundamento dessas duas dimensões nas organizações poderá direcionar melhor os esforços das empresas interessadas em fazer da ética um elemento forte da sua cultura, incorporado aos objetivos empresariais de forma consistente e duradoura.

O conceito de clima ético propicia um rico e inovador debate sobre ética empresarial segundo a perspectiva dos empregados. É um contraponto necessário ao discurso pronto das empresas, pois a resposta à pergunta “o que é importante aqui?” vem dos comportamentos e ações concretas de reconhecimento e apoio aos empregados. Não vem do discurso da alta administração e nem da documentação oficial.

Dissertação (Mestrado) apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas em janeiro de 2005.