Alguns Aspectos Psicológicos
O fenômeno da desonestidade de funcionários e do comportamento criminoso no local de trabalho resulta em um grande impacto financeiro e moral no negócio. Os fenômenos transcendem culturas e etnias e parecem ser um motivo de preocupação para qualquer economia no mundo. As estatísticas, que se referem a apenas um aspecto de crime no local de trabalho – furto por funcionários –, são alarmantes: de acordo com um estudo do Departamento Americano de Comércio, de 2001, a desonestidade de funcionários resulta anualmente em um custo excedente de US$ 50 milhões a empresas americanas. A Câmara Americana de Comércio estima que 75% de todos os funcionários furtam pelo menos uma vez e que metade destes roubam de novo... e de novo. A Câmara também relata que um em três negócios quebra como resultado direto do furto por funcionários. Executivos de Prevenção de Perdas, em resposta à 2001 National Retail Security Survey da Universidade da Flórida, atribuem 45,9% de suas perdas ao furto por funcionários. De acordo com o recentemente divulgado 2001 National Retail Security Survey, os varejistas americanos perderam mais de $33,2 bilhões devido ao furto por funcionários. De acordo com oficiais do serviço público americano, nenhuma outra forma de apropriação indébita é tão custosa quanto o furto por funcionários. Os resultados do Canadá, Brasil e Austrália refletem tendências similares às dos Estados Unidos.
O furto interno constitui um problema ainda maior que o demonstrado por esses números. Para contextualizar o problema, seguem alguns fatos amplamente aceitos por especialistas:
· A maior parte dos furtos por funcionários não é detectada pela gerência. · Quase todo negócio é vítima furto por funcionários em algum nível. · A maioria dos funcionários honestos prefere não tomar conhecimento de furto por funcionários e não relata o fato. · Funcionários desonestos roubam o máximo possível, na medida em que o sistema permite, e não param até serem pegos. · O custo anual de combate à desonestidade de funcionários nos Estados Unidos é de aproximadamente US$ 15 milhões. · Mesmo funcionários bem pagos se envolvem em crimes no local de trabalho.
Para um melhor entendimento, este trabalho tenta descrever ao leitor alguns aspectos psicológicos do fenômeno.
Definições
A definição mais comum utilizada para descrever o fenômeno é: Furto por Funcionários. Furto por funcionários é qualquer apropriação indébita intencional de propriedade do empregador. Entretanto, furto por funcionários não se refere apenas à apropriação indébita de propriedade ou mercadorias do empregador, e inclui também o “skimming” (vendas embolsadas antes de serem registradas), falsificação de recibos (cobrar um valor do cliente, registrar um outro valor e embolsar a diferença), “registros nulos ou em valor menor (vendas são registradas como nulas, fazendo parecer que o cliente devolveu as mercadorias), recibos encobertos (reter dinheiro e recibos), furto de mercadoria, folha de pagamentos fictícia (autorização salários para empregados fictícios), despesas superfaturadas, fraude em compras (os funcionários às vezes declaram-se fornecedores de mercadorias não-existentes e subseqüentemente reembolsam a si mesmos), fraude de tempo (tratar de assuntos pessoais durante o trabalho), suborno, fraude, desfalque, venda de informações internas, etc. e etc..
Sinais de Alerta
A existência de um adversário interno não ocorre na organização sem ser notada. Alguns dos sinais de alerta são:
· Discrepâncias entre os registros do inventário e as contagens físicas. · Um número excessivo de documentos anulados. · Fotocópias de faturas nos arquivos. · Discrepâncias no caixa. · Depósitos bancários diários que não correspondem aos recibos. · Cheques sem fundos que são aceitos com freqüência ou aprovados por um funcionário específico. · Despesas de frete inadequadas. · Negociações em fins econômicos aparentes. · Uma notável alta porcentagem de reembolsos ou crédito. · Muitas transações relacionadas feitas pela mesma pessoa.
Sinais de alerta são detectáveis somente na empresa; eles podem ser notados também no comportamento do criminoso. Segue uma lista parcial de sinais de alerta comportamentais observados com freqüência em funcionários desonestos:
· Insatisfação com o emprego · Não tira férias ou tira apenas férias curtas · Mudanças no estilo de vida – viver acima de seus recursos financeiros · Problemas pessoais · Abuso de drogas ou álcool · Abuso de licenças médicas · Trabalho lento ou mal feito · Atrasos · Muitas pausas · Muitas ligações particulares · Perdas de investimento · Jogos
Motivos
Uma série de circunstâncias podem impactar a vida de uma pessoa a ponto de mudar valores e atitudes mantidos durante muito tempo e, conseqüentemente, podem levar a mudança de comportamento. Funcionários que foram pegos e confessaram terem cometido um ato ilícito deram as seguintes razões:
· Vingança – Por serem tratados injustamente pela gerência · Ganância – Sempre se pode usar um determinado produto e/ou dinheiro extra · Necessidade – Despesas pessoais que excedem o salário · Oportunidade – Foi fácil e acessível · Pressão dos colegas – Todo mundo aqui faz o mesmo · Falta de política clara – Definição do que é certo e errado · Imitação – Meu empregador rouba dos nossos clientes · Benefícios adicionais – É a maneira como o empregador nos dá um aumento de salário · Falta de comprometimento – Eu vou pedir a demissão logo · Falta de moral entre os funcionários · Maus-tratos – Eu sou mal pago
Todos esses motivos pertencem a uma só denominação: um ato de “intenção maliciosa”.
Racionalização
Surpreendentemente a maioria dos funcionários que foram pegos cometendo um ato ilícito não se consideram criminosos. Além disso, é socialmente aceitável cometer alguns dos atos dos quais esses funcionários são acusados. Esses funcionários consideram-se funcionários honestos que cometeram violações disciplinares, e não ladrões. A razão para essa cegueira repentina pode ser encontrada no mecanismo de defesa psicológica humana, que racionaliza o ato. Para superar o conflito interno entre trair o seu gerador de renda e o ato ilícito cometido pela pessoa, o mecanismo simplesmente se estabelece para superar a ansiedade resultante do conflito. Alguns dos motivos mais comuns dos funcionários são:
· “Eu ganho pouco e trabalho muito” (“Eu só tirei o que me era de direito”) · “Eu só levei mercadoria danificada” · “Quando falta dinheiro (na registradora) eu coloco, e quando sobra eu tiro” · “Eu só estou pegando o dinheiro emprestado por pouco tempo” · “Eles vão me despedir de qualquer jeito” · “Eu trabalho aqui há muitos anos e sinto que isso me pertence”
Background Teórico
Instintivamente, a explicação comum do leigo para a desonestidade do funcionário é a falta de valores morais sólidos, atribuída ao baixo nível de educação ética. Entretanto, a explicação é muito mais complexa e o comportamento é influenciado por vários fatores:
Fatores influenciantes na integridade
Apesar de o julgamento moral ser o principal fator influenciante no comportamento de um funcionário, há elementos adicionais que possuem um efeito no comportamento moral:
Funcionário
· Comprometimento – um funcionário comprometido evitará agir contra o seu empregador simplesmente porque ele(a) se importa com a sua empresa e seu empregador. · Motivação – Para evitar danos à sua reputação, um profissional e/ou uma pessoa motivada pela carreira se manterá afastada de qualquer ato desonesto. · Julgamento Moral – Quanto mais altos os valores morais, menor a probabilidade de o funcionário estar envolvido em um mau ato. · Motivo – A existência de um motivador (lista mencionada acima) para agir desonestamente.
Sociedade
· Código Penal – Um Código Penal bem definido, cobrindo todos os aspectos do comportamento criminoso no ambiente de trabalho. · Padrão de vida – A existência de símbolos de alto padrão de vida (carros de marca, roubas, etc.) cria o desejo de possuir esse padrão de vida. · Efetividade da coação – Um sistema de justiça criminal ineficaz (cortes, processos, polícia) não criam a inibição necessária mesmo se houver um código penal bem definido.
Organização
· Clima – De transparência e honestidade. · Cultura Moral – Um código de ética e comportamento claramente definido e implementado. · Política/Normas – Normas claramente definidas e implementadas que deixam uma margem muito estreita para o julgamento dos funcionários nas áreas éticas.
Posição
· Acessibilidade/Oportunidade – Quão fácil é roubar? · Abordagem dos Colegas – Os seus colegas estão violando o código de ética? · Controles – A falta de controles aumenta a facilidade de cometer um ato desonesto.
O Triângulo da Violação
Uma análise conduzida em milhares de casos revela que um funcionário se envolverá em um ato criminoso e/ou em uma violação disciplinar grave somente se todos os três elementos a seguir estiverem presentes:
· Disposição Emocional – Uma combinação de julgamento moral, comprometimento e motivação, textura moral da sociedade e da organização e abordagem dos colegas. · Atratividade – Consideração de custo/benefício para o ato que o funcionário pretende cometer com a existência de um motivo pessoal. · Oportunidades – Condições oferecidas por processos, sistemas e ambientes de trabalho que permitem fácil acesso e falta de controles adequados.
O Ato
O ato desonesto é uma combinação de mau julgamento moral pela existência de um motivo (como necessidade, ganância, vingança, etc.) e acompanhado de falta de comprometimento para com o empregador e uma oportunidade fácil e acessível para cometer o ato ilícito.
Soluções
Consolidando esses aspectos psicológicos, os fundamentos básicos da IntegPro’s para resolver esse problema são:
· Criar inibição · Diminuir a tentação · Aumentar a conscientização
Para atingir esses fundamentos os seguintes princípios devem ser observados:
· Total apoio gerencial e patrocínio para nossas soluções · Políticas e procedimentos bem elaborados · Comprometimento – criar comprometimento na empresa mas, ao mesmo tempo, criar um impacto sobre os maus atos (bônus anual, benefícios) · Coação efetiva – incluindo auditoria e procedimentos de controle – um sistema de alerta · Responsabilidade – conseqüências para os maus atos · Recompensa e Reconhecimento – para aqueles que ajudaram a manter a empresa limpa
Além disso, as empresas devem tomar as seguintes precauções para proteger-se da exposição à desonestidade dos funcionários (segue uma lista muito parcial):
· Estabelecer uma política clara em relação a assuntos relacionados a integridade (tolerância zero é altamente recomendada) · Criar normas (como código de ética, código de conduta, etc.) · Pré-seleção de candidatos · Filtragem periódica de funcionários · Conduzir inventários físicos com freqüência · Separar funções contábeis · Aprovar pessoalmente ajustes contábeis · Controlar pessoal que assina cheques · Revisar extratos bancários mensais · Controlar o caixa pequeno · Separar compras e contabilidade · Controlar os cartões de crédito da empresa · Documentar todos os relatórios de despesas
A implementação de todas essas soluções criará uma mudança gradativa na cultura de integridade organizacional em direção à fase final de confiança entre todos os membros da empresa.
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