Os escândalos da Enron e outras companhias nos Estados Unidos mostraram que esquecer-se da ética pode ser um mau negócio. Por isso, estão se tornando mais atrativos os fundos de investimento que asseguram levar em conta os critérios éticos e sociais das empresas nas quais investem. Érika Kinets descreve essa tendência no jornal Internacional Herald Tribune (22/09/02).
O artigo parte da constatação de que "os ativos nos fundos de investimento normais diminuíram 9,5% no primeiro semestre do ano, enquanto os ativos dos chamados fundos socialmente responsáveis aumentaram 3%".
"Em um mercado que a cada dia parece encontrar novos modos de afugentar os investidores, os fundos socialmente responsáveis estão crescendo. Enquanto a ética se enfraquece em alguns locais, nesse pequeno e peculiar grupo do mercado de valores em que Greenpeace e Greenspan se encontram, uma nova cultura ética está se desenvolvendo". Como explicar esse fato? "Investidores afugentados pelos enganos empresariais buscam algo em que possam colocar a sua confiança e, como um número crescente de fundos socialmente responsáveis está tendo bons rendimentos, ser lucrativo já não parece ser incompatível com fazer o bem".
No entanto, indagar sobre o caráter moral de uma companhia continua sendo uma tarefa difícil. "A responsabilidade social significa coisas diversas para diferentes pessoas. Alguns fundos socialmente responsáveis estão ligados à lei islâmica, sharia, que proíbe cobrar juros. Outros descartam empresas que vendem armas ou tabaco. Outros, como o Jupiter Ecology Fund, um dos mais antigos e rentáveis fundos socialmente responsáveis da Grã-Bretanha, investe em empresas que promovam ativamente as causas ambientais e de bem-estar social. Há também os exigem o engajamento dos acionistas".
"Um dos motivos do crescimento é que os investidores não precisam escolher entre consciência e rentabilidade". De fato, os dados publicados no artigo mostram que, quando se pensa além do curto prazo, a rentabilidade dos fundos socialmente responsáveis está dentro da média dos fundos.
Os céticos, como o analista financeiro Bill Blevins, diretor do Blevins Franks Internacional, em Londres, pensam que "o autêntico investimento com critérios éticos é difícil de se encontrar. Em muitas empresas há coisas boas e más, como em muitas pessoas". Entretanto, afirma a autora do artigo, "os problemas da Enrom e de outras companhias convenceram muitos investidores de que a ética é um ponto central nos negócios, e não algo que os distrai deles".
Smith, do Social Investment Forum, explicou a mudança de mentalidade: "De acordo com a lógica antiga não se perguntava: Devo misturar os meus valores pessoais com os fundos de pensão? Como isso afetará a rentabilidade?. A nova forma de pensar é: Deve-se levar em conta a ética nas decisões de investimento, porque isso afetará o resultado".
Editorial de Interprensa. São Paulo, nº 63, novembro de 2002, p. 1
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