Dr. Félix Ruiz Alonso *
O que se pode fazer para contribuir, de alguma forma, a melhora do quadro ético que aparece tão deletéreo no limiar do novo milênio?
A Worldcom, segundo as últimas verificações, fraudou seu balanço em mais de sete bilhões de dólares. É uma cifra assustadora; um crime de colarinho branco que impressiona. Mas, aquilo que deveras impressiona é o conluio formado entre algumas das auditorias internacionais e multinacionais que elas auditoriam. A ética foi para o espaço!
Tem-se a impressão de que as muitas empresas globalizadas, que a mídia refere porque falseiam os balanços, são apenas a ponta do iceberg. Estamos perante um formidável engodo financeiro-contábil. E note-se, todavia, que todas essas empresas possuem seus próprios Códigos de Ética.
O que acontece? Para que serve um Código de Ética que não se respeita? Não estarão os Códigos encobrindo as fraudes?
O problema que aí está deixa entrever que a ética é eminentemente pessoal. De nada serve a norma ética, escrita num Código, se antes o indivíduo não for ético.
A recente biografia sobre o fundador do grupo Morgan ("Morgan: American Financier" de Jean Strouse) mostra esta realidade: a primeira coisa é o caráter. A qualidade pessoal é questão prioritária.
A globalização permite ver de forma nítida duas coisas: primeira, que a economia, tanto global quanto nacional, não se sustenta sem o comportamento ético de seus atores e, segunda, que não são as normas éticas escritas que fazem o homem ético.
A linha de força está na excelência pessoal. No anseio individual de ser gente -não ser um patife!-, de ser um cavalheiro -não um scroquer, um pedófilo ou um mafioso!-, de ser uma pessoa boa -não um fraudador, um estelionatário!- de ser um cidadão que ama seu país e seus concidadãos.
A questão nos reconduz a ética clássica, desenvolvida no Ocidente. Ela, ainda que tenha escorregado historicamente para um certo normativismo maximalista, onde se procurava regular todas as situações possíveis, na realidade falava sobretudo da excelência pessoal do que hoje chamaríamos de qualidade humana. Numa palavra: a ética clássica punha o acento mais nas virtudes pessoais do que nas normas éticas.
A globalização mostra que a ética codificada não se sustenta, quando não vai precedida pela qualidade pessoal, sendo facilmente burlada, como hoje acontece em grande escala.
A globalização mostra que a ética é antes interna do que externa; mostra que flui do interior da pessoa e não das normas positivas. Estas não passam de um reflexo da ética que flui de dentro da pessoa. Aquilo que realmente importa é manter limpos os mananciais éticos dos cidadãos e potencializá-los ao máximo. O grande desafio é a formação ética pessoal do cidadão.
|
Dr. Félix Ruiz Alonso, é formado pela Faculdade de Direito da Universidade do Laterano, Roma (Itália), pela Faculdade de Direito da Universidade Central de Madrid (Espanha), e na Faculdade Paulista de Direito da P.U.C. de São Paulo. Doutor em Direito pela Universidade do Laterano de Roma (Itália) e Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo; Ex-Conselheiro do tribunal de ëtica e Disciplina da OAB-SP e Diretor da "Esa-Ética, Escola de Altos Estudos de Ética".
|
|