|
Inês Migliaccio*
|
A paixão pela busca da verdade e o domínio da técnica de sua transmissão são traços fundamentais de um jornalista, de um bom jornalista, que em seu labor se pergunta: que vale a pena transmitir? Por que? Para quem? Onde? Como? Por sua mente desfilam, constantemente, questões éticas de candente atualidade.
A realidade diária do jornalista
Todos os dias, o profissional da informação julga a bondade ou a maldade, a verdade ou a falsidade dos fatos e coisas. Todo homem faz isto, porque é próprio da natureza humana, é sua forma de ser. Entretanto, o jornalista, quando o faz em sua tarefa profissional, através de um grande meio de comunicação, pode arrojar uma forte luz ou névoa sobre a realidade, e os frutos de sua reflexão movem um mundo: a opinião pública.
A ética do jornalista
Este mecanismo, intrínseco da natureza humana, é denominado filosoficamente de ética, que se refere à moralidade dos atos humanos, aos costumes, ao "dever ser" e implica a formulação de juízos sobre a bondade ou maldade de um ato, a verdade ou falsidade de uma coisa. Tais juízos são formulados pelas potências superiores do homem: a inteligência e a vontade. Mais especificamente pela inteligência, que conhece o objeto e o propõe à vontade que pode desejá-lo ou descartá-lo. Este juízo da inteligência é o que chamamos de consciência.
Verdades são valores
Quando as verdades descobertas se tornam fim ou critério de conduta de um homem na sua busca de um bem, são denominadas valores, como destaca em seu livro "Fundamentos da Antropologia", o filósofo contemporâneo espanhol, Ricardo Yepes Stork . Segundo ele, a noção de valor sempre está relacionada à noção de bem, que é o conveniente para nós. Os valores valem por si mesmos, o outro vale por referência a eles. É aquilo que nos diz o que cada coisa significa para nós, e pressupõe uma relação constante entre nossa intimidade e o exterior.
A ética como realidade aberta
Neste sentido, a ética é uma realidade aberta, que se concretiza à medida que o homem adequa sua inteligência à realidade das coisas e dos fatos, julgando a bondade, elegendo o bem. Nesta última instância, entra em cena sua liberdade, definida pelo filósofo medieval, Tomás de Aquino (séc. XIII), como uma propriedade da vontade pela qual o homem se autodetermina a um fim.
Ancorado nesta estrutura, o homem se faz e se abre ao mundo como um ser capaz de entender-se e de comunicar-se com os demais; de viver em sociedade; o homem é um ser social por natureza. Como dizia o filósofo Aristóteles (III a. C), quem insiste em viver ilhado ou é mais que um homem ou menos que um homem, mas não é um homem. Em sociedade o homem busca o bem, definindo seus valores, que medem a importância do que lhe damos a algo.
O desafio da ética jornalística
Os meios de comunicação são instrumentos eficazes de manipulação de valores, pelo poder de persuasão que possuem. Quanto melhores sejam os valores implícitos de seus profissionais; desde o último repórter da redação ao proprietário do meio de comunicação ? e conseqüentemente da informação produzida por eles, melhor informarão. Além disso, as mensagens só podem chamar-se informativas se são conforme a verdadeiros valores, senão, no lugar de informar, desinformam. Pelo que se tem dito, o grande desafio está na eleição e uso destes valores, e nisto consiste a ética jornalística.
As limitações inerentes à profissão
Entretanto, a objetividade desta prática, a ética jornalística, tem seu limite na subjetividade dos jornalistas e das próprias fontes de informação. Pelo que se entende que a neutralidade absoluta da informação produzida por um meio de comunicação é uma utopia, pois sempre passará pelos olhos, a cabeça e os dedos de um jornalista ou muitos jornalistas, que vêem a realidade de uma forma. Além do que, as próprias fontes de informação, apresentam suas restrições naturais ou intencionais. Entretanto, isto não significa que necessariamente transmitem falsidades ou mentiras.
A superação das limitações do jornalista
Neste sentido é imprescindível crer que o homem, neste caso, o jornalista, é capaz de conhecer a realidade e transmitir a verdade, senão, simplesmente, não faz sentido comunicar-se e muito menos falar de comunicação. Uma vez admitida esta realidade, podemos dizer que, quanto mais competência possui o jornalista, melhor se comunicará e informará. Mas, em que consiste tal competência?
A competência comunicativa do agente da informação
A competência comunicativa do jornalista pode ser definida como a boa relação com as fontes de informação, a capacidade de expressar-se gestual, visual, oral e textualmente, com perfeição de linguagem, adequada ao público receptor. Os jornalistas eficazes são homens e mulheres que sabem pensar com lógica, julgar com justiça, falar com precisão, ler com inteligência e escrever com clareza sobre a verdade das coisas.
O real exercício do poder de informação
"O jornalista é o mediador entre a informação bruta e útil. E um dos fatores de mediação da inteligência humana que agrega valor à informação", como nos recorda o diretor de redação do jornal "Estado de São Paulo", Sandro Vaia, que também destaca que "sua função é captar a informação na sua fonte de origem contextualizá-la, hierarquizá-la, torna-la compreensível, e disponibilizá-la ao consumidor final numa linguagem clara".
O profissional que assim atua exerce um real poder informativo, de outra maneira, cedo ou tarde, ver-se-á escravo de suas próprias mentiras, pois se "a verdade nos faz livres", a mentira nos enjaula e amesquinha nosso mundo.
*Inês Migliaccio é Editora da Agência Estado, Mestre em Jornalismo pela UNIMESP e UNICAMP.
|
|
Devido ao padrão da internet a formatação do artigo não segue o padrão original do arquivo. Para visualizar o arquivo original faça o download clicando aqui.
|
|