Há poucos dias, num shopping center da Zona Sul da cidade de São Paulo, frequentado por consumidores das mais variadas classes socioeconômicas, o “sonhado” Papai Noel recebia abraços, beijos e ... pedidos!
Uma criança, encantada com a possibilidade de vê-lo “de verdade”, aproximou-se dele e ouviu:
- Meu filho, o que você quer de Natal?
- Um robô, Papai Noel!
- Ah, você vai ganhar, sim! Ro, ro, ro! ...
A criança saiu feliz desta conversa.
A mãe, que ouviu o diálogo, sentiu-se indignada com a promessa feita ao garoto. Pensou: Qual será a ética do Papai Noel? As suas promessas podem ser sempre cumpridas?
Foi pesquisar o preço do dito robô, vendo o sonho da criança, mais intenso pela ingenuidade de acreditar no “Velhinho”.
Verificou que se tratava de uma quantia fora de suas possibilidades.
Promessas enganosas? Ou irrefletidas?
O episódio faz pensar no desrespeito à criança, por sua inocência; e aos pais, pela situação em que foram colocados.
Ao contratar o “Papai Noel”, o estabelecimento com certeza visa ao maior volume ou faturamento com vendas. Finalidade compreensível nesta época do ano. No entanto, como os fins não justificam os meios, não seria ético orientar o Papai Noel a não alimentar a ilusão das crianças, não fazendo promessas nem sempre realizáveis?
Respostas como: “Vou ver se encontro...”, “Vou ver se consigo...”, ou outras mais criativas não assegurariam aos pais a compra de um presente acessível, sem frustrar o menino? Pela oportunidade do Natal, certamente gerariam vendas, mesmo que não fossem de robôs.
O oportunismo, visto por alguns como estratégia, do ponto de vista da ética empresarial pode constituir uma injustiça grave. É diferente oportunidade de oportunismo. Alimentar a esperança do robô se tornou uma tática oportunista.
Se acalentar sonhos infantis é apenas um instrumento de marketing, como explicar às crianças que elas estão fora da realidade, quando o acesso aos produtos ou serviços não é viável?
Que “ginástica mental” os pais têm que fazer para evitar uma grande decepção? O robô pode se tornar uma idéia fixa, “porque o Papai Noel falou”.
No limite, o Papai Noel terá que deixar de existir, porque o Papai Noel não pode enganar. Seria crueldade obrigar as crianças a interromperem os sonhos a que têm direito.
Por ética, o Papai Noel deveria deixar felizes filhos e pais... com paz!
(#) Profa. Dra. Maria Cecilia Coutinho de Arruda, LPEC
Membro do GEES – CRASP
Diretora – Hetica Treinamento Empresarial
Presidente ALENE – Associação Latino-americana de Ética, Negócios e Economia