José Maria Rodríguez Ramos *

Site - No ano passado e no corrente ano de 2006 a mídia nos tem trazido informações, cada dia mais assustadoras sobre a decadência do nível ético de nossos governantes e de nossos empresários. O Brasil tornou-se um país sem ética?

José Maria Rodríguez Ramos - Não considero que existam países éticos ou antiéticos. A ética é pessoal e, por essa razão pode haver cidadãos éticos e antiéticos, assim como governantes e empresários éticos e antiéticos, porém não países. Compete a cada cidadão, nas circunstâncias e ambiente em que vive construir um país mais ético. Essa é uma tarefa de todo cidadão.

Site - Ao lecionar a disciplina Ética, como você lida com a reação dos universitários e até mesmo de outros professores que consideram a ética uma utopia?

José Maria Rodríguez Ramos - Geralmente despreza a ética aquele que não assume o compromisso pessoal com a honestidade ou é cético quanto à possibilidade de viver em uma sociedade mais ética. Se não me comprometo com a ética, como justificar o ensino da ética? Se não acredito que o ensino da ética possa, pelo menos, causar impacto na consciência dos jovens, ou que desta forma possa contribuir para elevar o nível ético de meu país, para que ensinar ou estudar ética? De qualquer modo, a ética é disciplina prática. Os estudos de casos, valores e princípios podem ajudar na hora de tomar uma decisão.

Site - As empresas têm seu foco nos resultados (valor tangível), mas ao mesmo tempo estabelecem seus valores intangíveis e, geralmente, colocam a ética como um deles. Quando houver conflito entre a ética e o lucro, qual deles deve prevalecer?

José Maria Rodríguez Ramos - Tanto nos tempos atuais como no passado, sempre existiu a possibilidade de que o empresário ser ético ou não. Entretanto, em face das características dos últimos anos, ser ético exige novos desafios e criatividade. A ética pode não ser a melhor forma de auferir lucros, porém, sim, é a melhor forma de enfrentar a competição, desde que concordemos que a honestidade é um valor que está acima do econômico. No ano 2000 participei do Second Congress of Business, Economics and Ethics, realizado e S.Paulo, nas instalações da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas. Ouvi testemunhos de empresários do mundo inteiro, líderes em diversas áreas da indústria, comentando como a ética é introduzida na vida das respectivas empresas. A conclusão foi a de que ética e negócios podem caminhar juntos.

Site - As inovações tecnológicas contribuem ou atrapalham a vivência da ética nos negócios?

José Maria Rodríguez Ramos - O avanço tecnológico das comunicações tem sido importante para a transparência nas empresas. Uma das hipóteses que se estuda em Economia, com relação ao modelo de concorrência perfeita é a perfeita informação, ou seja, a transparência de preços e quantidades de produtos sendo ofertados e procurados. Os avanços nas comunicações, particularmente na Internet, têm contribuído para maior transparência e informação e, portanto, deixam menos espaço para as fraudes e outras atitudes desonestas.

Site - A ética pode ser considerada um fator de competitividade ?

José Maria Rodríguez Ramos - Sim e não. Sim, na medida em que hoje há maior consciência social, e empresas que não têm preocupação com valores éticos que, por exemplo, usam mão de obra infantil ou que não tenham preocupação com o meio ambiente, já estão sendo alvo de boicote em todo o mundo por consumidores esclarecidos. Nos Estados Unidos há fundos de investimento chamados “sociais”, que assumem o compromisso com os clientes de não investir em empresas que não cumpram certos critérios éticos e ecológicos e sociais. No Brasil, também, há essa preocupação. Recentemente, um boletim de certa instituição financeira tratava de investimentos em fundos éticos e estimulava a aplicação em “Bolsa de valores sociais”, incentivando seus cientes a comprarem ações sociais recomendadas pela ONU e endossadas pela Unesco. Não, enquanto que a ética é um valor em si mesmo, independentemente do resultado econômico. No meu modo de ver, o valor econômico deve se subordinar ao valor ético.

Site - Ao selecionar os colaboradores em que medida é possível avaliar se um candidato é ou não ético?

José Maria Rodríguez Ramos - A ética é prática, não teórica. Por essa razão, somente é possível saber se um profissional recém-contratado agirá eticamente na hora em que estiver trabalhando na empresa e enfrentando os dilemas éticos como decorrência do exercício da profissão. Entretanto, para saber se um profissional é ético, há um passado, e são as referências e o currículo de uma pessoa a fonte de confiança e a credibilidade no seu trabalho.

Site - Quem deve ser ético na empresa: a alta administração, o pessoal de nível médio ou os que trabalham no chão de fábrica?

José Maria Rodríguez Ramos - Todos sem exceção. Há que se considerar, entretanto, que o exemplo vem de cima. A confiança e o respeito dos subordinados e a dedicação aos objetivos da empresa estão diretamente relacionados ao exemplo dos que têm funções de comando. E, além do mais, comenta a especialista em liderança, Joanne Ciulla, hoje em dia a sociedade rejeita o uso coercitivo ou manipulador do poder. As pessoas desejam seguir líderes íntegros e coerentes, e são esses líderes que atraem os trabalhadores mais capazes.