Site - Já se ouviu falar muito em empresa socialmente responsável, mas familiarmente responsável é novidade. Gostaria que você explicasse o que é uma empresa familiarmente responsável.

Nuria  Chinchilla - É aquela empresa que considera como primeira responsabilidade social o cuidado das condições de vida e trabalho de seus empregados, concretamente, facilitando políticas de conciliação entre trabalho e família: flexibilidade no tempo e no espaço, ajuda na trajetória profissional tendo em conta a realidade familiar e serviços à família.

Site - É possível conciliar o trabalho profissional de um executivo ou de uma executiva e a família? É possível conseguir um equilíbrio entre a vida profissional e familiar tanto para homens quanto para as mulheres que trabalham fora do lar?

Nuria  Chinchilla - É muito difícil, fundamentalmente porque as condições de trabalho que se tornaram cultura já são antiquadas: reuniões de última hora ao final do expediente, viagens que poderiam ser substituídas por uma videoconferência, resistência a facilitar o teletrabalho em alguns casos e em determinadas situações, longas jornadas de presença no trabalho, em lugar de se trabalhar por objetivos e, finalmente, o pensamento de que o bom profissional é aquele que está disponível para a empresa as vinte e quatro horas do dia. São crenças falsas, superadas somente por poucas pessoas, que são mais produtivas e equilibradas.

Site - Há uma rivalidade muito grande entre o homem e a mulher no mundo do trabalho. Muitas mulheres se comparam aos homens e reivindicam os mesmos direitos. Essa competição é saudável?

Nuria  Chinchilla - Somos iguais enquanto pessoas. Mesmos direitos, educação, voto..., mas somos diferentes no modo de trabalhar e de entender o mundo. A maternidade é uma realidade enriquecedora –pessoal e socialmente – mas que empresarialmente e sob o ponto de vista do Estado não foi ainda assumida. A mulher não quer ser como um homem no mundo laboral, quando isto supõe abandono da vida privada e familiar, porque a ambição da mulher é mais ampla: re-conciliar a vida profissional, familiar e pessoal.

Site - A educação dos filhos, a saúde dos pais idosos e doentes, a divisão de tarefas entre marido e mulher, às vezes, são questões que angustiam a mulher. Trocar idéias ou pedir conselhos a colegas de trabalho sobre esses assuntos pode aliviar essa angústia? Assuntos familiares devem ser comentados na empresa?

Nuria  Chinchilla - A empresa tem uma função: criar riqueza e dar emprego. Isso primariamente, mas, devido ao fato de que o Estado foi diminuindo suas funções, a empresa é cada vez mais “o lugar onde acontecem as coisas e onde as pessoas vivem intensamente”. As preocupações familiares, conjugais e a educação dos filhos demandam um novo protagonismo e muitas empresas oferecem cursos a seus empregados sobre esses temas.

Site - Como pode a mulher executiva eliminar as barreiras que a impedem de se converter em verdadeiro agente de mudança na sua vida pessoal, familiar, social e profissional?

Nuria  Chinchilla - Em primeiro lugar tendo claro que não pode ceder sempre à cultura empresarial. A mulher executiva tem, além do mais, poder para enfrentar essas mudanças e propor modelos produtivos flexíveis, trabalho por objetivos e um traçado de carreiras profissionais com distintas velocidades dentro da própria vida de uma pessoa ou de um trabalhador/a.

Site - Que prioridades deve estabelecer a mulher executiva, esposa e mãe de família?

Nuria  Chinchilla - Sem dúvida alguma a gestão do tempo e um perfeito uso de sua agenda, tendo, como prioridade, arrolar aquilo em que é insubstituível. Depois, aprender a delegar.

Site - Pode a mulher se realizar como profissional, renunciando a um cargo de alta direção na empresa, para atender aos reclamos da família, por exemplo?

Nuria  Chinchilla - Certamente, mas há que ter muito claro que essa decisão –que também pode ser tomada por um homem, por esse ou outros motivos- não tem porque ser para sempre. Estaciona-se por um tempo e se retoma a carreira profissional, quando for mais conveniente.

Site - No seu livro “Ambição Feminina” você fala de carreira e trajetória profissional. Qual a diferença entre ambos?

Nuria  Chinchilla - Carreira é correr contra alguém, é um termo que remete só ao trabalho e à competição constante, o que gera angústia contínua. Trajetória supõe ir fazendo caminho, segundo o ritmo mais conveniente para cada caso, tendo em conta, também, a vida familiar e pessoal, planejando-a em harmonia com a do cônjuge.

Site - É possível afirmar que o papel da mulher no mundo empresarial é tão importante quanto o do homem?

Nuria  Chinchilla - Ainda não, somos minoria, mas uma minoria que cresce. Trinta por cento de cargos de diretoria são ocupados por mulheres. Esta cifra há alguns anos era simplesmente impensável. Sem dúvida avançamos, agora trata-se de ajudar a que ocupem esses postos, aquelas que o desejam e sejam capazes, além de procurar que as culturas rígidas do passado não prejudiquem esta realidade. O ponto de vista feminino supõe humanização das estruturas empresariais e é este, cada vez mais, o estilo de direção requerido para as empresas do século XXI.