Site - Como tem sido a adesão das empresas aos princípios da Governança Corporativa?
Lélio Lauretti - Como um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, em novembro de 1995, tenho tido a agradável experiência de verificar o crescimento da área de influência das organizações que, como o IBGC, disseminam as boas práticas de governança corporativa. É a figura da boa semente que encontra o solo fértil e produz muito. Éramos 30 associados, na fundação do IBGC, e hoje somos mais de 500. De seu lado, as empresas têm visto nas boas práticas um caminho adequado e eficaz para a sua própria valorização, para a melhoria de seu desempenho, para aumento de sua atratividade para novos capitais e, principalmente, para sua sustentabilidade. Está aí a experiência bem sucedida da Bovespa, na listagem especial de empresas com compromissos de boas práticas de governança corporativa, cujo nível mais alto é o "Novo Mercado".
Site - Como pode ser feito um balanço social levando-se em conta ações éticas e antiéticas?
Lélio Lauretti - Precisamos ter cuidado com os conceitos de "ético" e "anti-ético", para evitar os riscos da vulgarização. A rigor, podemos aplicar às empresas o mesmo conceito de "elite" referido na resposta à primeira pergunta acima: se as empresas estão contribuindo (e podem contribuir muito !) para a criação de um mundo melhor, seu relatório social será naturalmente um enunciado de ações "éticas".
Site - Qual a correspondência que deve haver entre balanço social e econômico?
Lélio Lauretti - São duas faces da mesma moeda: a empresa economicamente mal sucedida está quase que automaticamente impedida de cumprir funções sociais relevantes. Na contramão, a empresa economicamente bem sucedida à custa de expedientes imorais, como suborno, sonegação, exploração do trabalho, competição desleal, etc., tem um "passivo social" que depõe contra sua própria existência. Qual o sentido de falar em "responsabilidade social", por exemplo, numa empresa cuja principal atividade é altamente prejudicial para a sociedade ?
Site - Sob o ponto de vista ético o consumismo excessivo pode ser considerado um desvio de conduta?
Lélio Lauretti - Temos aqui, realmente, um problema de conflito de interesses: como pode uma empresa deixar de estimular a demanda por seus produtos ? E se o resultado for esse "consumismo", seria isso um problema criado pelas empresas ou pela cultura moderna de poder, em que os "poderosos" são os que ganham e gastam muito, no mais das vezes de maneira ostensiva ? Não parece tarefa fácil enquadrar a questão no terreno da ética. Muito diferente é o caso das empresas que deliberadamente estimulam hábitos e consumos prejudiciais à saúde física ou mental, porque estão adotando práticas claramente anti-éticas.
Site - Que aspectos devem ser abordados em um relatório de sustentabilidade e quais os seus pontos críticos?
Lélio Lauretti - A questão central me parece ser a visão de longo prazo. Temos que reconhecer a existência de outros aspectos, como a preservação da natureza, o relacionamento construtivo com todos os parceiros, o resguardo da reputação e da imagem, mas todos eles são facetas do mesmo diamante, que é a visão de longo prazo.
Site - Pode o grau de reputação de uma empresa ser elevado mediante a implantação de processos de balanço social, relatórios de sustentabilidade, criação de códigos de conduta?
Lélio Lauretti - Tenho certeza de que SIM.
Site - O senhor acha que a ética empresarial é uma utopia ou uma realidade a ser alcançada?
Lélio Lauretti - Se a ética fosse utopia, o mundo já teria acabado há muito tempo... Embora a mídia tenha sua matéria prima favorita nos desastres, nos crimes, nos assaltos, na corrupção, etc., as pessoas de bem continuam seu trabalho de construir um mundo melhor, e a comunicação vai, passo a passo, se tornando a ferramenta por excelência das mutações que ocorrem na sociedade, para melhor ou pior. Nosso trabalho, como indivíduos, ou como empresas, ou como organizações sem fins lucrativos, é usar a comunicação na direção única da consagração da ética como o alicerce mais precioso de uma sociedade feliz.
Lélio Lauretti, economista, com cursos de especialização em Mercado de Capitais (Fundação Getúlio Vargas – S.Paulo) e Administração para Presidentes (Harvard Business School - Boston). Professor dos cursos de governança corporativa do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
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