Site - Conte-nos de onde você vem e qual a sua área de atuação?
Christin Hokenstad - Estudei religião e economia no Wellesley College. Trabalhei em Consultoria de Alta Tecnologia para Ernst & Young nos anos 90 e voltei para Costa Leste, a fim de estudar Ética nos Negócios, na Universidade de Harvard. Durante os meus estudos de mestrado em Teologia eu investiguei a disparidade global no acesso à tecnologia, como também o potencial da Internet para promover a democratização.
Site - Porque escolheu o Brasil para sua área de pesquisa?
Christin Hokenstad - Estou trabalhando no Brasil sob a orientação do Professor Sanjeev Khagram da Escola do Governo Harvard Kennedy, pesquisando sobre cidadania corporativa em bancos, empresas de mineração e indústria automobilística. Trata-se de um estudo comparativo entre a Índia, a África do Sul, a Tailândia e o Brasil.
Os Estados Unidos também têm sido um ponto de referência no estudo. Assim, o conhecimento que eu adquiri na área de Ética e Tecnologia advém do meu trabalho como profissional no setor privado, da condução de pesquisas acadêmicas e através de entrevistas com os mais altos executivos da área de ética e responsabilidade social das organizações americanas.
Site - Você poderia nos contar se há demanda por orientações sobre a implantação nas empresas americanas de políticas de ética no uso da Internet?
Christin Hokenstad - Apropriação de identidade, direitos de privacidade de clientes e empregados, acesso e discriminações na distribuição da tecnologia dentro da sociedade, plágio e quebra de acordos virtuais... tudo isso revela os problemas da era tecnológica que nossos dias enfrentam. Todas essas questões são dilemas éticos.
Site - Se tivesse que dar uma aula para executivos que pretendam implantar políticas de uso da Internet, que orientações você daria? Há diferença entre as políticas de uso de Internet e políticas de ética no uso da Internet? Qual essa diferença?
Christin Hokenstad - Os princípios éticos que as companhias utilizam para uma administração eficaz são perenes: a política e o bem estar social dos empregados, a segurança e satisfação dos fornecedores e clientes, bem como a exploração adequada dos investimentos dos acionistas, além do eficiente e respeitoso uso dos recursos. Contudo, o que mudou foi o ambiente empresarial no qual a companhia opera. Mudaram, também, as ferramentas que são usadas para a efetiva administração dos negócios nessas novas circunstâncias. Temos que nos debruçar sobre as questões éticas que surgem envolvendo tecnologia nos negócios e trabalhar na procura de soluções, pautados pelos mesmos princípios éticos de sempre.
Site - Como é tratada pela empresa americana a questão do plágio e da violação do sigilo, do uso de correio eletrônico, da livre navegação pela Internet, da privacidade?
Christin Hokenstad - O ambiente no qual a ética se manifesta mudou. Substituímos o contato pessoal, o discernimento humano, o atendimento personalizado por tecnologias que nos permitem economizar tempo e dinheiro. Hoje os clientes adquirem os produtos, com segurança, sem saírem de suas casas, sem qualquer contato com a empresa ou vendedores. Mas será que é seguro mesmo? O crime mais denunciado ao FBI no ano de 2003 foi apropriação de identidade. A maioria dos roubos de identidade ocorreu mediante o uso constante da Internet. Outras mudanças incluem os acordos entre as partes, que são entabulados prescindindo dos encontros presenciais, face a face. Os longos apertos de mãos foram substituídos pelo vídeo-conferências, sem assinaturas. E para garantir a segurança, os empregados das empresas permanecem sob constante vigilância. Câmeras escondidas gravam nossas vidas pessoais e profissionais sem o nosso conhecimento ou consentimento. A custo do sacrifício das nossas relações pessoais e, algumas vezes, do respeito mútuo, priorizamos a eficiência.
Então, como responder a estes instigantes problemas tecnológicos? Retornando ao básico… retornando à ética. Executivos e administradores necessitam apenas retornar aos Códigos de ética de suas empresas, freqüentemente escritos bem antes da onda da Internet e dos dispositivos de vigilância. Esta medida resgatará o delicado equilíbrio que deve existir entre respeito, segurança, eficiência e lucro.
Os princípios destes códigos não precisam ser alterados. O que precisa ser revista é a forma como esses princípios devem ser aplicados nesse ambiente de avançada tecnologia. O equilíbrio está ausente e alguns ajustes são necessários: Hoje é recomendado e freqüentemente exigido pelas empresas que todas as mensagens eletrônicas pessoais dos empregados sejam enviadas para seus endereços eletrônicos pessoais, e lidas durante intervalos ou fora do ambiente de trabalho.
Os ativistas de direitos civis estão pressionando as companhias a fim de que estas informem seus empregados quando eles estão sob vigilância. Como muitos alegam, é uma questão de respeito e um direito. Além disso, os códigos de ética nos lembram que o plágio, por exemplo, seja de livros ou de informações extraídas da website ainda é considerado fraude. As companhias estão exigindo que seus empregados citem suas fontes de informação e tratam violações com o rigor exigido.
Em alguns casos a tecnologia está sendo desenvolvida para responder a problemas, como assinaturas virtuais que protegem e conferem autoridade ao acordo entre as partes. Todavia o grau de confiabilidade e acessibilidade é ainda bastante limitado.
Site - Como as empresas americanas lidam com uma tecnologia que se moderniza a cada dia?
Christin Hokenstad - Esses desafios éticos e esses percalços devem ser vistos como um lembrete de que em nosso mundo de mudanças constantes, a ética e os nossos princípios, precisam ser freqüentemente relidos, revalidados e constantemente reaplicados, de modo que continuem sendo relevantes em nossas vidas, supram as nossas necessidades e acompanhem as constantes inovações da mente humana.