Site- Qual a motivação que o levou a escrever o livro Ética & Negócios?
Julio Lobos - Em geral, a manifesta falta de visibilidade, no Brasil, de transgressões éticas que recentemente vergaram a economia de outros países. É ingênuo imaginar que justamente por aqui as corporações sejam ilhas de virtude quando há U$ 36 bilhões que ninguém sabe de onde saíram e que foram parar na agência do Banestado em NY. No entanto, é como se elas fossem, pois nada se fala ou se escreve sobre esse assunto.
No específico, um livro que escrevi em 2003 sobre mulheres executivas, baseado numa pesquisa bem representativa (500). Elas se diziam mais éticas do que seus colegas homens, mas quando posicionadas hipoteticamente em situações "reais" - ex.: contratar uma mulher grávida?; apoiar uma denúncia de assédio sexual bem fundamentada? etc. - agiam igual a eles (ou seja, sem levar em conta a questão moral presente em cada caso). O episódio mostrou que as empresas criaram uma nova moral, onde quase tudo é permitido moralmente, desde que se agregue valor ao acionista - e que ninguém deixa de ser seduzido por essa ideologia.
Site - Como foi possível reunir tantas pessoas de destaque do mundo empresarial, no lançamento de seu livro na Câmara Americana do Comércio?
Julio Lobos - Não sei. Talvez a AMCHAM tenha feito uma boa divulgação, ou o tema da ética, tal como eu o enfoco, passando ao largo da benemerência e sem esconder nomes ou exemplos de comportamentos corporativos a-éticos, seja uma novidade. Ouvi dizer também que a AMCHAM irá abraçar essa bandeira, em 2004.
Site - Na sua percepção quais os piores desvios de conduta ética encontrados nas empresas?
Julio Lobos - Um elenco infinito de manobras quimicamente legais que, no entanto, lesam terceiros como o Fisco, os clientes, os fornecedores etc. Os exemplos todos conhecemos, mas o que os torna particularmente perversos é a sua impunidade, sustentados que são pelo esforço conjunto de advogados argutos, marqueteiros criativos e, sobretudo, CEO´s coniventes. Dessa maneira vamos sendo anestesiados pela noção de que as corporações são boas cidadãs porque mantém creches ou financiam projetos culturais. No entanto, são as mesmas que sonegam, fazem acordos de preços com concorrentes, praticam a venda casada, poluem e desinformam.
Site - O que recomendaria às empresas para evitar que entre seus integrantes haja desvios de conduta?
Julio Lobos - Parar de pendurar Códigos de Ética nas paredes e explicar claramente, com palavras e com exemplos, o que é ético e o que não é, no cotidiano dos negócios.
Site - Há esperanças de que as empresas instaladas no Brasil incorporem a ética como um valor essencial para sua sobrevivência?
Julio Lobos - Duvido, enquanto o bottom line delas não seja afetado (pela falta de ética). Atualmente não é - e não vejo como poderá vir a sê-lo.
Site - O que mais o impressionou, no sentido positivo, em termos de conduta ética, durante a sua trajetória como consultor de empresas?
Julio Lobos - A honestidade do empregado comum. Esse raramente faz o que não deve, moralmente falando. As coisas se complicam quando esse mesmo sujeito vira gente na hierarquia e as tentações começam a pipocar na sua frente - desde expense reports até ganhos-por-fora obtidos de fornecedores "amigos" etc. Mais para cima, aí nem se fala. Realmente, o que mais impressiona é a capacidade corruptora do poder. E o talento dos que têm poder para tomar decisões imorais sem se sentirem culpados de absolutamente nada. Esse fenômeno, vemos, não ocorre tão somente na política.