Agir de forma errada só porque outros são desonestos não é desculpa para um comportamento antiético, afirma Gabriel Hawawini, reitor do European Institute of Business Administration (Insead), uma das escolas de negócios mais renomadas do mundo. "Temos de quebrar esta lógica e ir além desta motivação, mostrando às pessoas exemplos de empresas que colocam a ética no topo de seus valores e têm muito sucesso", disse em entrevista ao Estado.
O reitor da European Institute of Business Administration - INSEAD no Brasil
Hawawini está no Brasil pela segunda vez e participou ontem, em Brasília, do "Fórum Desenvolvimento Empresarial para o Século 21", realizado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Dentre as recentes mudanças no mundo corporativo apontadas pelo reitor está a maior atenção dada a temas como responsabilidade social, sustentabilidade e a ética. Este último é uma das questões mais debatidas no País atualmente.
Comportamento ético - Problema global
No Brasil, o dilema da ética está sendo muito exposto no noticiário político, em razão da crise no governo Lula. A questão também envolve empresas e o modo como atuam. Este é um problema global? A falta de comportamento ético é um problema no mundo todo, que passa por uma combinação de caráter e de regulamentos, que precisam ser muito rígidos. Os Estados Unidos, por exemplo, são um país aberto para diferentes tipos de negócios, mas também muito regulador. É preciso ter sistemas legais que realmente rastreiem se as pessoas agiram com ética. O tema ainda precisa deixar de ser assunto de comportamento e partir para ser caso de lei, com regras rígidas que, se burladas, acarretem penalidades.
Punições
Em alguns países, as punições ainda são muito leves. Além disso, as pessoas sempre falam que agem de forma errada porque todo mundo o faz. Temos de quebrar esta lógica e ir além desta motivação, para mostrar às pessoas exemplos de empresas que colocam ética no topo e têm muito sucesso. É preciso sair do pensamento de que, se não for desonesto, não farei mais negócio, porque os negócios com sucesso duradouro são apenas os que atuam com ética.
Limites para lucro?
O senhor acha que deve existir um limite na busca por lucro dentro das empresas? Não acredito que exista contradição entre ética e lucro. Se uma empresa quer ter bons ganhos durante um ano agindo de forma desonesta, pode fazer isso de maneira antiética. Mas se ela quiser ter algo a longo prazo, ano após ano, tem de se basear em princípios éticos. Aliás, para mim, quanto mais ética for uma companhia, mais lucrativa ela será. O senhor acredita que as empresas criaram sua própria ética, que se diferenciou muito da moral cristã que reinou no ocidente por séculos? Temos de voltar para trás e ver a educação das crianças e o contexto no qual ela cresceu. Acredito que somos, sim, produto de nosso meio, mas vejo que no mundo latino ainda é dada muita ênfase de que alguém tem bom comportamento porque está relacionado com alguma religião. Mas religiosidade não é suficiente, temos de partir para a visão anglo-saxã de que não se trata de questão moral, mas sim de uma questão legal. Deixar a crença de que temos de ter moral para decidir o que é certo ou errado e partir para o que é legalmente certo ou legalmente errado. Assim, se a pessoa fizer algo errado, será punida duramente.
Preparo e desafios dos executivos
Como o executivo, no Insead, é preparado para enfrentar este novo desafio da ética? Não acreditamos que deve haver uma matéria separada apenas para tratar da ética. Ela precisa estar em todas as disciplinas. Se o estudo é sobre finanças, temos de analisar um dilema ético nas finanças, assim como com outros assuntos. Tentamos convencer nossos estudantes mostrando casos de empresas que sobreviveram por muito tempo por terem atuação ética. Mostramos também que, se a empresa é desonesta, pode se dar bem por um período, mas ser pega de uma hora para outra e tudo ruir. No fim, a orientação ética é que vai criar valores para as companhias. Também mostramos aos alunos que se virem um comportamento errado, devem deixar a empresa. Atualmente, quais são os grandes desafios para os executivos? As escolas não podem mais prover apenas conhecimento e técnicas, mas também ajudar estudantes em áreas como liderança, tomada de riscos e criatividade. Outra demanda é o pensamento na responsabilidade social, desenvolvimento sustentável e ética nos negócios. O desafio das escolas é achar o balanço certo entre estas habilidades e as técnicas.
Fonte: O Estado de São Paulo, Negócios,B14, 03/08/05
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