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Sustentabilidade

Diário de São Paulo - SP, 08/11/2003, Opinião, A-10

Heródoto Barbeiro



Você já reparou como o clima da nossa cidade está mudando? O mesmo está acontecendo em vários lugares desta imensa nave espacial chamada Planeta Terra. O Ártico nunca teve tão pouco gelo como agora. Está derretendo em uma velocidade muito maior do que qualquer catastrofista de plantão poderia apregoar. Este ano o calor em Paris foi o mais intenso desde 1947. Na Suíça, o tal gelo eterno já não é mais tão durável como se imaginava, e as ricas estações de esqui para os ricos turistas têm de lançar mão de neve artificial para a diversão da burguesia do topo do mundo. Este outono em Nova York é tão atípico que tem gente de biquíni e sunga em pleno Central Park.

O que estará ocorrendo? Todo mundo sabe o que está acontecendo. Estamos destruindo a nave. E quem vai continuar nos transportando pelo universo em um longo caminho percorrido pela nossa galáxia? É uma boa pergunta, e que precisa de uma resposta ainda melhor.

Ouvi uma, ou melhor, várias boas respostas no seminário "Sustentabilidade 2003 - Idéias Éticas, Sustentáveis e Socialmente Responsáveis", promovido pela EAESP-FGV- Fundação Getulio Vargas e coordenado pela professora Maria Cecília Coutinho Arruda.

Voltando às respostas, temos de tomar providências já para impedir que a degradação continue se acelerando até não se sabe quando. Há quem diga que nesse batidão a Humanidade não emplaca 2050. Se isto é verdade ou não eu não sei, mas que estamos pondo o planeta em perigo, estamos.

Um dado incontestável: hoje usamos muito mais produtos do que a natureza é capaz de prover. As ações de sustentabilidade envolvem desde o esforço de algumas empresas comprometidas com o futuro até pequenas ações que você e eu podemos desenvolver longe dos holofotes, prêmios, pseudo-solenidades de cidadania e outras coisas que motivam a mídia, mas ajudam muito pouco.

Estou sugerindo que a gente aja com a Terra com um pouco de ética. Ética? Sim, ética. A melhor definição que conheço deste assunto é "ética é tudo aquilo que eu faço quando ninguém está vendo". Simples? Não. complicado, muito complicado. Por exemplo, deixar de pegar saquinho plástico de supermercado para embalar lixo. Ele é reaproveitável? É melhor do que usar um saco de papel reciclado?

Uma grande empresa pode optar por investir em um novo equipamento que em vez de usar centenas de litros de óleo lubrificante usa poucos e reaproveitáveis litros. Uma grande empresa de papel compra de volta a maior parte do produto de cooperativas de catadores e além de criar preciosíssima renda, reaproveita novamente como matéria-prima, em vez de cortar árvores ainda que plantadas para isso.

Um morador da área rural, em vez de lançar o esgoto de sua moradia ou casa de campo no córrego mais próximo, faz uma fossa, com o fundo concretado para não poluir o lençol freático, e usa os dejetos como adubo na terra.

Toda essa ação de reaproveitar e reciclar tudo o que for possível e agredir o mínimo possível o planeta está na área da sustentabilidade. Você sabe que cada vez mais o que move o mundo é o dinheiro, o investimento, a especulação e a busca irrefreável de resultado. Tudo bem, a gente compreende, mas se não existir a nave, onde vamos buscar tudo isso, mais a sobrevivência nossa e dos nossos filhos?

Por isso, é preciso dizer que lutar por uma economia sustentável não é uma utopia de meia-dúzia de sonhadores babacas que se reúnem em um auditório para dizer uns para os outros o que todo mundo já sabe. É preciso dizer aos que se movem só pela busca do resultado, lucro ou do prestígio social que sustentabilidade dá lucro, resultado e aparência social. Além de ser politicamente correto, dá lucro! Investir em novas tecnologias e comportamento aumenta o resultado, agrada os acionistas que agradecem aumentando a participação dos gestores nos lucros.

No meio dessa história o cidadão comum não pode ficar de braços cruzados. De um lado tem de fazer a sua parte, com o que aparentemente é uma pequena ação, e do outro tem de pressionar o Governo e as empresas pela sustentabilidade. Não é só fazendo passeata na Avenida Paulista, mas deixando de comprar de empresas que não querem se comprometer com o bem-estar de todos. Pode ter certeza que juntos podemos mudar o mundo. Quem foi mesmo que disse isso?

 



17/8/2007


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