A Escola de Administração de Harvard se gaba de ter oferecido seu primeiro curso sobre ética administrativa - "Fatores Sociais nos Negócios" - quase um século atrás, em 1915. Mas não é hora de a Harvard - ou, de fato, qualquer outra escola de administração - repousar sobre suas láureas.
A Harvard planeja incluir em seu currículo um curso obrigatório mais aprofundado de ética chamado "Liderança, Governança e Confiabilidade" em janeiro. "O novo curso vai expor mais estudantes ao tipo de pressão que eles inevitavelmente enfrentarão no trabalho", diz Lynn Paine, professora de Administração.
A faculdade começou a reavaliar seu currículo de ética antes da onda de escândalos nos Estados Unidos, mas a debacle da Enron Corp, e tudo que se seguiu a ela tornou mais fácil para a universidade angariar apoio de sua equipe de professores para o novo curso. O curso quase certamente incluirá um estudo de caso da Enron, que segundo Payne tem sido revisado constantemente a cada novo evento, além de outros casos que sirvam como modelos positivos de administração.
Na era pós-Enron, programas de mestrado em Administração, os chamados MBA - em particular o da Harvard -, viraram alvo de cáusticas críticas por produzir profissionais obcecados com a idéia de ganhar dinheiro sem se importar com as conseqüências éticas. Para algumas pessoas, os graduados em MBA são a raiz de toda a ganância e desonestidades corporativas. Numa pesquisa de opinião pública sobre como empresas podem recuperar sua reputação, um participante declarou: "Livrem-se dos MBAs de Harvard!" Afinal, dois vilipendiados ex-executivos da Enron - Jeffrey Skilling, que era o diretor-presidente, e o ex-diretor financeiro Andrew Fastow -fizeram, respectivamente, o mestrado de Administração da Harvard e o da Escola de Administração Kellogg, da Universidade Northwestern.
Até mesmo o presidente americano George W. Bush, que tem MBA de Harvard, pediu publicamente que as faculdades de Administração "sejam escrupulosos educadores do que é certo e errado e não se deixem levar pela confusão moral e pelo relativismo". As escolas parecem ter entendido o recado. Elas estão incluindo mais treinamento sobre ética no currículo do que nunca e tentando investigar o histórico de integridade de candidatos antes de aceitá-los.
De fato, algumas estão checando a veracidade e correção dos formulários que recebem de candidatos e Harvard acrescentou em sua prova uma redação na qual os alunos precisam explicar como lidariam com um dilema ético. "Esperamos com nosso processo de seleção poder atrair estudantes com fortes vaIores", diz Paine.
Recentemente, a AACSB International, principal organização que credencia faculdades de Administração, aumentou a ênfase em ética nos padrões que as escolas precisam cumprir para serem credenciadas. "Antes da Enron, a ética não ocupava um papel central em muitas fatuIdades", diz Carlyn Woo, presidente da AACSB e diretora da Faculdade de Administração Mendoza, da Universidade de Notre Dame, Estado de Indiana. "Precisamos desafiar nossos estudantes quanto a seus valores e desenvolver neles uma consciência sobre as implicações éticas de decisões administrativas."
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