Jornal Valor Econômico, Sexta-feira, 15 de agosto de 2003 - Ano 4 - Nº 823 - Empresas & Tecnologia
Claudia Facchini
O modelo tradicional de empresa, em que a ética e a responsabilidade social ainda não são valores incorporados, está falido. Na avaliação do economista Eduardo Giannetti, o conceito tradicional de empresa contém duas "graves" deficiências, a alienação do trabalho e a alienação do capital, que põem em risco a sua continuidade no cenário atual, em que a tecnologia da informação e o capital humano assumem um papel cada vez mais importante nas corporações. Por alienação do trabalho, Giannetti refere-se à idéia de que o funcionário é só uma peça anônima, para quem o trabalho não é uma fonte de realização.
Por alienação do capital, o economista atribui o preconceito de que a responsabilidade social não tem nenhum papel para a empresa. Segundo Giannetti, esses valores criam contratos sociais "calculistas e mercenários, que podem levar as empresas ao fracasso". "A empresa é uma microcomunidade", afirma o economista, acrescentando que o caminho é buscar "autonomia com responsabilidade e comprometimento". Esses conceitos, porém, ainda não aparecem no dia-a-dia.
Para Gilberto Dimenstein, colunista da "Folha de São de Paulo" e presidente da Ong Cidade Escola Aprendiz, o terceiro setor passa hoje por uma crise, com uma excessiva exploração da responsabilidade social e da ética como uma peça de marketing. "A contribuição que se espera em troca, do que é feito em termos de responsabilidade social, é uma questão crítica", afirma o vice-diretor administrativo da FGV.
A atuação do governo também é alvo de polêmica, pelo uso ineficiente dos recursos. Giannetti atentou para a "gravidade" do quadro educacional do país, criticando a destinação de 22% do orçamento para o ensino superior e o descaso com o ensino fundamental. "A Coréia do Sul destina 11% do orçamento para o ensino superior", afirma.
Dimenstein, Giannetti e Gelman participaram ontem de um debate durante o 2º Seminário de Responsabilidade Social no Varejo, realizado pela Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, que também concedeu o 1º Prêmio FGV-EASP de Responsabilidade Social no Varejo. Os vencedores do prêmio nas categoria micro e pequena empresas foram o Projeto Terra e a Farmais da cidade de Osório (RS). Nas categorias de empresas de médio e grande porte foram eleitos os projetos da rede de farmácias Pharmativa, de Minas, e o grupo Pão de Açúcar.
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