Para o professor José Pastore, “há profissões em que a tecnologia está andando muito depressa”. Domenico De Masi diz que foi criado o supertrabalho para uns poucos. Por isso, o profissional tem de fazer treinamento periódicos.
Dirceu M. Coutinho, de São Paulo
Realmente, desemprego é o problema do novo século, embora, nas atuais proporções, ele tenha “nascido” no século passado. E não é só no Brasil, mas no mundo inteiro. Até no Japão...
É que com a globalização as empresas entraram numa guerra pela redução de custos. A concorrência está cada vez mais turbinada. Com isso, as empresas recorrem à tecnologia em todos os segmentos profissionais, essencialmente nos setores industrial e de serviços.
Para o professor José Pastore, sociólogo e conceituado especialista em Economia do Trabalho, “há profissões em que a tecnologia está andando muito depressa”. E exemplifica: no setor da indústria, isso está acontecendo com os estampadores, ferramenteiros e ajustadores. Na área química, a incidência maior é com técnicos químicos; no setor de tecelagem, também com os técnicos. Ele destaca o setor bancário, no qual as pessoas precisam estar bem treinadas em informática. E acentua, textualmente: “Assim, há profissões em que a tecnologia anda mais depressa.”
Respondendo à pergunta sobre o setor de executivos de comércio exterior, Pastore ressaltou que o treinamento é muito necessário, porque os profissionais precisam acompanhar os mercados nacional e internacional. “Isso exige, disse, treinamento e retreinamento contínuos. É imprescindível, ao lado de uma formação básica. Depois se deve insistir em treinamentos periódicos para manter a atualização profissional.”
Ainda sobre a questão do treinamento, ele informou que na área pública existem escolas técnicas, tanto de primeiro como de segundo graus. Elas oferecem cursos regulares, mas ultimamente estão começando a realizar alguns treinamentos de curta duração do tipo reciclagem e reconversão profissional. Referiu-se também aos esforços desenvolvidos pela Força Sindical e pela CUT no treinamento de mão-de-obra, com recursos do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Acrescentou que se trata de uma iniciativa daquelas duas entidades sindicais, que utilizam recursos do FAT para promover treinamentos, principalmente para desempregados. É uma atividade que não pertence ao governo. É uma atividade privada, que tem apresentado resultados razoáveis. “Não brilhantes, mas razoáveis” – reforçou.
Lester Thurrow
A crise do desemprego é, efetivamente, um fenômeno mundial. Em seu best-seller O Futuro do Capitalismo, Lester Thurrow assinalou que se passaram 25 anos sem nenhum crescimento dos empregos. Com mais 25 anos, o sistema (capitalista europeu) irá quebrar. Mais adiante, explica que “a Alemanha funciona, precisamente, porque é altamente competitiva ante outros países europeus, que têm o mesmo sistema de bem-estar social, mas são menos eficientes.”
Supertrabalho
Enquanto isso, o sociólogo italiano Domenico De Masi, em seu best-seller Desenvolvimento sem Trabalho, ainda sobre o avanço tecnológico, faz esta interessante colocação: “Em vez de aproveitar as inovações tecnológicas para produzir os mesmos bens ou menos tempo e aproveitar o ócio decorrente – as empresas preferiram produzir mais bens no mesmo tempo, alimentando uma espiral de consumo, embora arriscando saturar o mercado e contra a mão-de-obra sobressalente. Foi criado o supertrabalho para uns poucos e o desemprego para muitos, em vez de se reduzir a jornada”.
Em conseqüência, para estar sempre entre esses “uns poucos”, o profissional tem de fazer treinamentos periódicos.
Outros países
Sobre a situação em outros países, o professor José Pastore afirmou que o treinamento profissional, devido ao avanço tecnológico, é uma constante em quase todos os países. Eles investem muito, tanto na educação quanto no treinamento e reciclagem. Os Estados Unidos e a maioria dos países europeus fazem investimentos pesados nessa atividade. Eles investem, não só por meio das escolas, mas também por intermédio das empresas. “Então, conclui, hoje em dia o capital mais precioso das empresas é o ser humano. Por isso eles investem no ser humano.”
Revista Integração Econômica, São Paulo: nº 02, dezembro/2002, pp. 18-19.
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